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Hugo Bleichmar

Recebi, há dias, uma mensagem duma amiga via whatsApp, onde dizia: Morreu o seu autor preferido para a depressão. Não dizia mais nada e, assim, depois de uns breves instantes de perplexidade e desilusão, fui procurar alguma notícia que me pudesse informar do motivo da morte.

Espero sinceramente que não tenha sido consequência da infeliz pandemia que nos assola. Seria mau demais, pensei. Nunca conheci pessoalmente Hugo Bleichmar, no entanto era-me familiar. A sua perspectiva psicanalítica sobre as depressões era um desafio à nossa maneira de as pensar numa atitude condizente com o espírito do pai da psicanálise, Freud, claro, que se questionava constantemente.

O trabalho deste psicanalista argentino radicado em Madrid, enfatizou a necessidade de termos uma visão abrangente das depressões num encontro das diferentes abordagens que têm vindo a ser desenvolvidas dada as suas multideterminações. Bleichmar considerava as condições psicológicas que mantêm um estado de depressão como um estado de falta de esperança e de impotência para a realização de um desejo, que é fundamental para a pessoa e ao qual ela está intensamente fixada.

O seu modelo -modular- transformacional – diferencia-se das categorizações estáticas das categorias psicopatológicas e leva-nos a entender os vários caminhos que conduzem ao estado depressivo. O isolamento social que temos de manter com a consequente paragem da economia mundial acarretando necessariamente gravíssimas repercussões na grande maioria das pessoas, agravam fatores de vulnerabilidade que poderão remeter a outras questões como as da auto imagem e valorização de si próprio, donde o trabalho de Bleichmar manifestar-se como muito oportuno.

Não poderei nunca vir a ter o prazer de com ele poder conversar… Poderei apenas voltar a reler seus livros, inúmeros artigos e ver em vídeos, a exposição de suas ideias e, através do seu modo de falar e de expor, atrever-me a dizer-vos que me parecia tratar-se de um homem, para além de inteligente, afetuoso e simpático. Bleichmar pertencia à IPA (International Psychaoanalytical Association), e entre outros cargos, dirigiu a revista online «Aperturas Psicoanaliticas».

Descanse em paz.

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