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A Escuta do(s) Corpo(s)

Sim: Existo Dentro do Meu Corpo

“Sim: existo dentro do meu corpo. Não trago o sol nem a lua na algibeira. Não quero conquistar mundos porque dormi mal, Nem almoçar a terra por causa do estômago. Indiferente? Não: natural da terra, que se der um salto, está em falso, Um momento no ar que não é para nós, E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra, Traz! na realidade que não falta!” Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa, Lisboa: Presença, 1994.

A convite, apresentei, no passado dia 26 de janeiro, um caso clínico a Fernando Orduz, no II Encontro de Candidatos da IPSO, “O Corpo Psicanalítico- Teoria, Técnica e Prática”.

Conheci-o no Congresso “Modificações no Corpo” em 2017 e, desde então, sempre que o via/ouvia associava-o imediatamente a uma sensação de movimento e de liberdade.

Questionava-me como ele seria em contexto de supervisão. Que postura adoptaria? Que visões traria sobre um dos pilares fundamentais da formação psicanalítica, introduzida por Abraham, Eitingon e Simmel no Instituto de Berlim na década de 20?

Ainda há muito a explorar sobre os elementos que entram na dinâmica da supervisão: as questões da transferência e contratransferência, a transmissão do conhecimento, a separação do que é pensado em espaço de supervisão e/ou de análise, o que se escreve… em suma, as dificuldades de dar corpo a uma experiência que é difícil de explicitar.

Desde sempre questionei a palavra supervisão. Talvez seja porque me sugere a sensação de distanciamento, controle, julgamento, do que é certo ou errado, do mais e do menos.

Mas o que tenho experienciado até aqui tem-me demostrado que é um lugar para a elaboração, seguro, que traz um novo olhar, um encontro para pensar o campo e alargá-lo.

Nos primeiros contactos com o Fernando Orduz senti que procurou, numa escuta atenta, perceber os pontos cegos que levantavam mais questões.

Defendia que estamos numa era em que se procuram outras formas de representação para além da palavra, realçando a importância do Corpo.

Ao longo do meu relato questionou o que ia sentindo, quais as minhas reacções corporais e as do paciente, abrindo o caminho a novas narrativas, sempre imprevistas e por isso surpreendentes! Como se de uma dança se tratasse em que era respeitado o ritmo, o espaço, o silêncio, a ordem, a individualidade…a expressão livre e espontânea.

Senti a disponibilidade para ouvir e ao mesmo tempo de questionar, recriando o que se tinha vivido.

Proporcionou a expansão emocional, a autonomia, a independência e a criatividade!

Foi sem dúvida um momento que contribuiu para a construção da minha identidade como analista, um espaço onde se encontrou o Corpo Psicanalítico e como diz Fernando Orduz, 2019 “…de uma experiência intensa, dizemos que a pessoa deixou uma impressão”.

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