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Identidades Psicanalíticas Invisíveis – Notas soltas

Nos passados 22-24 Novembro realizou-se em Lisboa o 25º encontro europeu IPSO, com candidatos de vários países e continentes (Europa, América do Norte, América do Sul, África), reunindo candidatos portugueses da SPP e NPP. Foi ocasião para reflectir sobre as identidades psicanalíticas invisíveis.

A riqueza e diversidade de comunicações torna impossível um resumo. Partilho apenas algumas notas soltas, de uma escuta necessariamente pessoal.

Foi chamado à atenção que Freud não desenvolveu o conceito de “identidade”, mas antes o de “identificação”. O que sugere, talvez, que a identidade, essa procura de nos tornarmos nós mesmos, repousa num compósito de identificações, constitui-se a partir de uma essencial abertura ao Outro.

A identidade do analista assenta na sua análise pessoal, supervisão e formação dentro de um instituto de psicanálise. E constrói-se em cima de outras identidades. Entre os participantes encontravam-se pessoas oriundas da filosofia, literatura, arte, enfermagem, medicina geral, psiquiatria, pedopsiquiatria, psicologia, etc. Pessoas que trabalhavam em instituições públicas, em prática privada, todas com interesses variados e histórias únicas. Foi unânime o reconhecimento de que estas diversas identidades invisíveis alimentam a capacidade de pensar analiticamente, providenciando um conjunto de experiências e universos imaginativos que ampliam as possibilidades de escuta e de compreensão do outro.

Foi também mencionado que a psicanálise contém uma certa qualidade nómada, sempre em movimento, adaptando-se a novos contextos. A identidade do psicanalista constrói-se em interacção e diálogo com outros. Reconhece-se também pela imagem devolvida no modo como é interpelada, questionada ou criticada.

O ambiente e a cultura em que se insere o ser analista e ser analisando não podem por isso ser ignorados, tema que surgiu de diversas formas. O contexto social e económico pode facilitar ou impedir as possibilidades de fazer análise. Trabalhar em contextos institucionais frenéticos, tóxicos, hostis, pode causar um desejo de retirada das instituições, o que não deixa de levantar questões de responsabilidade ética.

O processo de formação e o seu potencial de produzir crises internas também foi abordado. O abalar de certezas e esquemas de referência, quando novas formas de pensar estão ainda em construção, é gerador de turbulência e inquietação.

Tivemos o privilégio de uma colega ter partilhado connosco as pinturas que foi fazendo ao longo da sua análise pessoal e formação, ilustrando o percurso de transformação e construção da sua identidade analítica.

Finalmente, procurou-se compreender o coração da identidade de analista, que alguém definiu como repousando entre a honestidade e a capacidade de emaravilhamento. Ainda que o conceito de honestidade possa ser equívoco- não tem o ser humano uma enorme capacidade de mentir a si próprio?

Um colega gracejou que precisou de atravessar o oceano para falar abertamente de certos sentimentos contra-transferenciais inconfessáveis, como sentir inveja do paciente. Questões como o uso da auto-revelação, do enactment, da contra-transferência, foram abordados neste encontro com a confiança de quem está entre pares, em segurança, partilhando a mesma aventura de ser candidato.

Parabéns e obrigado à comissão organizadora: Bruno Raposo Ferreira, Diana Ferreira Vicente, Filipa Falcão Rosado, Pedro Job, Rui Bento.

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