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Quem mata quem

Que semana! Das pensões a mortos, aos juízes e seus juízos, passando pela reviravolta na Liga, para terminar com o festival da canção… e isto com o 8 de março ao virar da esquina! Será o Carnaval a dar o tom para que um cortejo surreal desfile diante do nosso espanto?

O que se revela no que se esconde, qual o lugar da máscara, do disfarce, da pantomina? Se para Terêncio na Roma antiga nada do humano lhe era estranho, depois de Freud tudo o que é humano tanto nos é estranho quanto familiar. Ao fenómeno desafiante da vida psíquica, nas suas expressões individual ou coletiva, pode a psicanálise lançar um olhar simultaneamente compreensivo e subversivo. O ego, instância vital, trava uma eterna luta entre o caos atordoante das pulsões desenfreadas e a pressão de uma autoridade cujo freio tem de ser balanceado, incorporado, apropriado de sentido, para que a generosidade nasça da cobiça, a inveja dê lugar à gratidão, e a justiça não seja uma palavra com pés de barro. Violência, Intimidade, Feminino.Há palavras que carregam o peso dos tempos. Mas, apesar do determinismo inconsciente, o conhecimento que a psicanálise traz abre-se à possibilidade da mudança e à responsabilidade da escolha. Os números e os factos falam por si: a violência na intimidade e os crimes contra as mulheres estão na ordem do dia. Neste fenómeno multifatorial, há crenças inconscientes que tendem à repetição , ideias veiculavas ao longo dos tempos, preconceitos enraizados nas nossas mentes e ritualizados nas nossas tradições. O papel e o lugar da mulher, a relação das mulheres e dos homens com o (seu) feminino, está a mudar e tem de mudar! Sobre a decisão do sindicato dos juízes de oferecer um curso de maquilhagem para comemorar o dia internacional da mulher, Marisa Matias escreve, no DN, uma nota magistral.

Numa obediência cega a uma lei fálica que exclui e persegue o feminino, tornamo-nos todos carrasco e vítima na batalha irracional e vazia do poder vão.

O feminino lembra o retorno ao materno, vertigem matricial e fusional, para lhe dar chão e caminho. Representando a ligação, dita a separação O feminino e o masculino, combinados e criativamente integrados, são geradores de vida, de cultura, de humor. A canção e a persona Conan Osiris trazem ao barroco a frescura, ao atual o drama, ao homem a mulher e a criança… e desconstroiem tudo isso com graça e inovação. O rapaz que segura o leme do SLB, desarma-nos com um agradecimento “aos jogadores que estão a fazer de mim treinador” lembrando Winnicott e repondo no sucesso o lugar da relação. Valorizemos o feminino, vejamos nele a fonte de sensibilidade que nos humaniza perante nós próprios e perante o outro, sem medo da (con)fusão.

Imagem: Fotografia da autoria de Conceição Tavares de Almeida

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