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Psicanálise e Prevenção da saúde mental na adolescência

A prevenção é a área dos cuidados que tem como objetivo evitar uma perturbação, retardar o seu aparecimento ou diminuir o impacto negativo que pode ter na vida das pessoas.

O ser humano é o ser que nasce mais dependente do ambiente para sobreviver e a construção de laços significativos com as outras pessoas faz parte integrante do desenvolvimento saudável. Utilizando a linguagem da prevenção, as relações afetivas são fatores de proteção, ou fatores de risco, quando faltam ou falham.

A Psicanálise diz-nos que é a partir da interiorização das relações que nos formamos como pessoas, constituindo padrões relacionais que nos acompanharão toda a vida. Nestes padrões a experiência das relações precoces têm a maior importância, com a figura materna, em primeiro lugar, depois com as pessoas que estão no mundo que se vai alargando do bebé e da criança. Ainda assim os encontros que vamos tendo ao longo da vida também deixarão as suas marcas e bons encontros podem colmatar e reparar falhas do desenvolvimento precoce, bem como reorientar percursos que de outra forma seriam criadores de problemas de saúde mental. Quer dizer, a qualidade das relações é um fator decisivo na formação da pessoa desde o seu início, e ao longo da vida tem também um papel curativo.

A Psicanálise diz-nos que uma relação, para ser curativa, tem de tolerar a repetição dos padrões de interação da pessoa e, ao mesmo tempo, dar-lhe uma resposta diferente daquela que ela obtém habitualmente. Tem de permitir que o indivíduo repita, sem que o interlocutor repita, desta forma potenciando a mudança dos padrões relacionais disfuncionais.

Ligando a Psicanálise à Prevenção na adolescência, podemos dizer que ao longo do seu crescimento, as crianças e os adolescentes interagem com uma infinidade de profissionais adultos que têm missões de educação e ensino. As relações que se criam nestes contextos podem ter um enorme impacto na formação dessas crianças e adolescentes, nomeadamente face aos seus padrões relacionais.

Por isso, na minha perspetiva, uma das vertentes da prevenção tem a ver com a capacitação das pessoas que estão com as crianças e jovens todos os dias, de forma a que se tornem capazes de desenvolver relações com potencial curativo, que introduzam a diferença nos padrões relacionais disfuncionais ou promovam a continuidade nos que são já por si saudáveis. Isto é, que possam funcionar como fatores de proteção, em vez de serem mais um fator de risco.

Não assumimos que os professores sabem as disciplinas e como ensiná-las ou que os educadores e os treinadores sabem os jogos e as técnicas da sua profissão antes de se formarem. Também não podemos assumir que esses profissionais sabem como construir uma relação promotora de saúde mental com a diversidade de crianças e jovens com as quais têm de lidar em grande proximidade.

Nesta capacitação, que deve ser feita através de estratégias de formação e acompanhamento, a fundamentação na psicanálise, como disciplina das relações humanas, tem um lugar de primeiro plano.

Imagem: Rachael Ritchey

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