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Rui Aragão Oliveira

O Mundo na mão do meu tio Elói

Na década de 80, quando Portugal vivia intensamente um contacto genuíno com a liberdade recentemente conquistada, as fronteiras dissipavam-se e as oportunidades multiplicavam-se. O acesso a informação e ao mercado de sofisticação tecnológica em franca expansão desencadeava um entusiasmo criativo, que evocava uma potencial e renovada esperança revolucionária.

O meu tio Elói condensava esta impactante vivência na relação com os vídeos caseiros que realizava, produzia, editava e arquivava metodicamente. De forma inovadora, como muitos outros o fizeram, concebia pequenos filmes de cenas banais que, no seu entender, se iriam constituir em relatos históricos precisos que facilitariam o conhecimento e compreensão das gerações futuras.

Contribuir com conhecimento e promover desenvolvimento era uma força motivadora determinante.

À parte de detalhes e entusiasmos por vezes quase delirantes (ou entediantes!?) , estes autores amadores, “Elóis” que sonhavam tornarem-se “heróis”, e sem disso terem clara consciência, contribuíram não só para breves relatos da vida quotidiana, mas também para o desabrochar de uma relação inovadora com a imagem, o movimento e o seu registo de que hoje todos nos apoderámos, democratizado que está o seu acesso e partilha, tornando-se um fenómeno global e globalizante.

Expor o nosso olhar sobre o Mundo, agora num Blog, exige também conceber ideias, pensar, planear e assumir responsabilidades. Um Blog de Psicanálise será talvez uma outra maneira do Psicanalista “levar a peste” para lá de outras fronteiras, navegando agora por oceanos de enigmáticas nuvens digitais. Este ciberespaço favorece interacções e dissemina informação de uma forma inconcebível para o revolucionário Tio Elói da década de 80. Coloca novas interrogações às disciplinas científicas, às humanidades, à ética e igualmente à Psicanálise.

Na actualidade, poderá ainda um Blog ser perturbador e marcar alguma diferença?

O tio Elói vibrava impressionado com o impacto das “pequenas” cassetes VHS, sentindo assim que o Mundo lhe cabia na sua pequena mão.

Hoje, ao ligarmo-nos digitalmente, percebemos algo desconcertados que cada vez mais somos nós próprios que estamos na mão do Mundo, onde privacidade e intimidade, identidade e Humanidade necessitam mais do que nunca de ser reflectidas.

E é isso mesmo que espero do Blog de Psicanálise, que se constitua num espaço reflexivo e desafiante.

Aguardo entusiasmadamente os futuros contributos dos honrosos e criativos colegas psicanalistas portugueses!

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