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O Caminho para a Psicanálise

Recentemente terminámos a passagem pela Direção do Instituto de Psicanálise. Nessas funções, uma das nossas missões foi fazer primeiras entrevistas a pessoas que procuravam o Instituto na sua vertente clínica. Foi uma tarefa que nos suscitou bastantes questões, entre elas as que dizem respeito aos caminhos possíveis para iniciar uma análise e ao papel das primeiras entrevistas nesse caminho. Pareceu-nos importante fechar o mandato com uma reflexão sobre este tema, fazendo também uma análise histórica da atividade de primeiras entrevistas no Instituto, cuja atividade clínica existe desde 1977. Apresentámos uma parte dos resultados desta reflexão, ainda em curso, no IV Congresso de Psicanálise de Língua Portuguesa, em Cabo Verde.

A primeira entrevista é uma consulta com um psicanalista que analisa o pedido trazido pela pessoa que procurou o encontro e em que um dos resultados pode ser a recomendação para psicanálise. Tratando-se de um encontro entre duas pessoas que se desconhecem, os processos emocionais nela mobilizados são intensos. Para o paciente é uma situação nova, de que ele não sabe o que esperar, em que se vai encontrar com um desconhecido e pedir ajuda. Estes elementos ativam ansiedades no paciente, que podem ser atenuadas por alguns aspetos, como o facto de o analista pertencer a uma instituição que se considera confiável, como é o caso do Instituto de Psicanálise. Para o analista, existe a pressão gerada pela necessidade de contactar de uma só vez com toda a vida daquela pessoa, bem como de encontrar uma compreensão analítica das experiências que ela lhe traz. É sua a tarefa de transformar uma conversa informativa numa conversa com significado analítico.

Os aspetos a aprofundar, para avaliar a possibilidade de iniciar uma psicanálise ou uma psicoterapia psicanalítica, que passam pela exploração de elementos da personalidade, emocionais e relacionais do paciente, são “indicadores” que permitem criar um perfil da pessoa que inclua tanto as suas capacidades como as suas dificuldades e limitações. Nem sempre a capacidade de fazer uma psicanálise coloca as pessoas em análise. O que a experiência nos diz é que, frequentemente, as pessoas procuram junto de nós um momento de compreensão e uma conversa sobre si, sem necessariamente se comprometerem com o investimento pessoal, de tempo e financeiro que uma psicanálise implica. Falar com um psicanalista, muito mais do que fazer uma psicanálise.

Atualmente, a indicação para psicanálise não é vista apenas como uma capacidade prévia da pessoa. Há que contar também com o perfil do analista que melhor pode ligar com aquele paciente específico. Assim, a primeira entrevista é apenas uma das etapas do caminho para a Psicanálise. Em muitos casos, é mais tarde, no curso de uma psicoterapia, que foi o que a pessoa pôde aceitar à partida, que se completa o processo que começou connosco, de criação do paciente analítico. A possibilidade de fazer psicanálise é, então, uma criação que resulta do encontro analítico, em que analista e paciente vão procurando entender-se e encontrar as suas formas de trabalhar em conjunto, permitindo ao paciente perceber o potencial do processo.

Foto: Alexandre Fernandes, série Instituto de Psicanálise, 1992

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