Quando vamos investigar o conceito de intuição na literatura psicanalítica rapidamente nos encontramos no deserto. Isto é, Freud (1933) exclui a intuição da sua metapsicologia, referindo: “Do ponto de vista do método, a filosofia afasta-se híper-estimando o valor cognitivo das nossas operações lógicas, admitindo outras fontes de conhecimento, tais como por exemplo a intuição”. Mas Freud não excluiu a intuição do seu modo de pensar referindo em “Psicanálise e teoria da libido” (1923) que o médico analista se comporta de maneira mais apropriada se ele se abandona a ele próprio, nada quer fixar na sua memória e capta o inconsciente do paciente com o seu próprio inconsciente.
Mais tarde, Melanie Klein (1946) introduz o conceito de identificação projectiva, que é posteriormente integrado na teoria continente-conteúdo de Bion (1962) que desenvolve o conceito de identificação projectiva comunicativa. Por outras palavras, Bion inaugura uma visão intersubjectiva da psicanálise kleiniana e clássica, o que permitiu modificar a técnica, fazendo passar a atenção do analista não tanto pelo conteúdo das associações livres mas para a emergência dos processos inconscientes entre analista e analisando. Bion introduziu a intersubjectividade no pensamento analítico e fala-nos do pensamento intuitivo do analista como forma de captar as verdades psíquicas do inconsciente do paciente.
Anos mais tarde, são os psicanalistas americanos que retomam o conceito de intuição na psicanálise, James Grotstein (2000) descreve a intuição como “um órgão analítico” que capta por exemplo, as experiências sensoriais integradas na memória a longo prazo e Thomas Ogden, (2015) ao reescrever o trabalho de Bion (1967) “Notas sobre a memória e o desejo”, descrevendo que interpretando, o analista simboliza verbalmente a sua intuição do que é verdadeiro relativamente à experiência inconsciente do paciente.
Diria que, depois de Freud excluir o termo intuição da psicanálise foi necessário quase um século, para finalmente a intuição sair à rua, assim é com grande satisfação que divulgo: O Encontro Internacional Bion 2020.
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