“…passas em exposição,
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia que entornas no chão”
O refrão buarquiano de suas Vitrines, de gigante impacto estético, nos envia, ora como sujeito, ora como objeto, para o espaço virtual eminentemente feminino. Afirmamos, sendo talvez mais contemporaneamente correto o uso da interrogação: o que será eminentemente feminino?
Tema do próximo Congresso da International Psychoanalytic Association – IPA, em Londres, o Feminino inquieta a mulher, inquieta o homem, o menino e a menina.
Caetano Veloso, meio homem meio menino, na sua música Mãe, angustia-se:
“Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti”
Também em busca, Cacá Machado & Eduardo Climachauska, compositores paulistas, no trabalho Eslavosamba, colocam nas vozes de Elza Soares e José Miguel Wisnik o íntimo encontro com o Feminino. Este, de sabor certeiro e seguro.
“Eu não to nem aí
Ela e eu somos um
Caso muito raro eu sei
Olha aqui pra entender
Tem que ter cuidado
Mais que ter cuidado
Ter se debruçado
Nela
Olha aqui pra entender
Tem que ter estado
Bem ali ao lado
Mais que ali ao lado
Nela”
O Feminino: espaço original indefinível.
Felizmente, livres da pretensão de sucumbirmos num exame analítico revelador de significados, o mergulho no mundo subterrâneo da poesia embalada pela melodia nos conduziu para aquele canto reluzente da alma, essencial e inacessível, resgatando e acalentando o eterno pavor desconcertante de não saber.
Imagem: S/título, Stela Barbieri, vidro e água
Buarque, Chico (1981). As vitrines [gravada por C. Buarque]. Em Almanaque [LP]. Rio de Janeiro, R.J: Universal Music Ltda. (1981)
Veloso, Caetano (1978). Mãe [gravada por Gal Costa]. Em Água Viva [LP]. Rio de Janeiro, R.J: Philips. (1978)
Machado, Cacá & Climachauska, E. (2013). Sim [gravada por E. Soares & J. M. Wisnik]. Em Eslavosamba [CD]. São Paulo, SP: YBMusic. (2013)
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