No dia 19 de Outubro na sede da SPP, tivemos o privilégio de assitir a uma conferência apresentada pelo Professor Dr. Luís Sobrinho, com o curioso título “Depressão atípica como forma não psicótica de pseudogravidez”
Dotado de uma sapiência, inteligência e graça, pouco comum à maioria dos mortais, o Professor Dr. Luís Sobrinho explicou-nos que no decurso da sua longa experiência clínica de Endocrinologista, apenas observou duas vezes casos de gravidez psicológica. Nestes estranhos e raros casos clínicos, deparou-se com o bizarro facto do delírio da mente em mulheres não psicóticas se fazer acompanhar de um delírio do corpo. Por outras palavras, estas mulheres apresentavam sem, o estarem, todos os sinais de uma gravidez: amenorreia, engurgitamento mamário e ganho de peso.
Ensinou-nos ainda que algumas mulheres com aumento de peso sem razão aparente, apresentavam galactorreia ao mesmo tempo que tinham um aumento da hormona prolactina no sangue, hormona esta que tem também como função a preparação do corpo para as despesas acrescidas da gravidez e do aleitamento. Intrigado por estes casos e por um espírito científico e crítico muito apurado, iniciou uma série de estudos sobre estes acontecimentos, pensando até, jocosamente, que estes lhe valeriam o Prémio Nobel!
Os trabalhos iniciais nesta área foram feitos com o Dr João Lúcio França de Sousa, nosso ilustre colega, que consistiram numa série de entrevistas bimensais durante dois anos a mulheres com prolactinomas, de modo a perceber se haveria algum padrão emocional próprio destas situações. Concluiram que havia um padrão familiar prevalente de pais ausentes ou violentos, e mães hiperprotectoras. Perante esta maravilhosa exposição, em que pouco, ou muito, ficou por dizer, a nossa colega Sílvia Edros comentou como nos casos de somatização, a dificuldade da elaboração do luto leva a que a pulsão e a energia circulante não encontrem um recéptáculo mental capaz de as mentalizar, emergindo o corpo como a solução.
Foi uma belíssima conferência, da qual todos enriquecemos a nossa compreensão sobre a complexidade da natureza humana, mostrando-nos como por vezes ao corpo, não resta outro tratamento que não o da alma.
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