O Juiz-Conselheiro Dr. Armando Leandro deixou a Presidência da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, ao fim de décadas de dedicação à defesa dos direitos das crianças, nos diferentes cargos públicos para que foi nomeado e nas dezenas de iniciativas privadas de que participou.
Penso que é a ocasião para homenagear a pessoa e o trabalho que desenvolveu ao longo de dezenas de anos em prole dos direitos e da protecção das crianças e dos jovens em risco.
O Juiz Armando Leandro, juntamente com outros juízes seus contemporâneos no Tribunal de Família e Menores, tais como (citando de cor) Laborinho Lúcio, Rui Epifânio, Dulce Rocha, Joana Marques Vidal foram uma âncora para aqueles que, como eu, no Centro de Saúde Mental Infantil dirigido por João dos Santos, nos debatíamos com a gravidade da violência de todos os tipos que sofriam muitas das crianças que atendíamos. Estavam à distância dum telefonema, para nos aconselhar, para ajudar a resolver as situações de urgência, até para receber e orientar as famílias informalmente, mas também eles se debatiam com as insuficiências das soluções que (não) encontrávamos.
Perante as dificuldades que se apresentavam de forma recorrente, estes juízes quiseram participar da solução dos problemas e para isso criaram, nos anos 80, a Associação CrescerSer cuja missão é promover e divulgar os direitos das crianças e acolher as crianças vítimas de maus tratos. E assim tem continuado ao longo destes anos.
O Estado Português tem sido omisso e ineficaz em muitas das suas acções nesta área, nomeadamente na área da adopção ou devolvendo crianças a famílias sem qualquer capacidade de “cuidar”, o que torna os serviços de acolhimento uma valência indispensável à protecção das crianças em risco.
O Juiz Armando Leandro nunca desistiu de lutar, com sacrifício pessoal com grande coragem, sensibilidade, bom senso e honestidade moral, sabendo das enormes responsabilidades que lhe seriam imputadas nos cargos que desempenhava e os ataques a que poderia estar sujeito.
O Juiz Armando Leandro na sua prática seguiu sempre, tal como nós psicanalistas e profissionais da saúde, os princípios pelos quais se regem os cuidados básicos na área da saúde mental que devem ser prestados às crianças para um desenvolvimento saudável e foi sempre possível um diálogo estimulante em que a sua participação abria novas perspectivas.
É por isso que, não só como profissional, psicanalista e pedopsiquiatra, mas sobretudo como pessoa e cidadã não posso deixar de manifestar a minha gratidão pelo trabalho que desenvolveu ao serviço das crianças portuguesas e das suas famílias.
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