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Animal. [ ı ]


Fotografia: Jorge Rolão Aguiar


Fecho os olhos e penso na palavra Animal. Em livre associação, penso em Instinto, em Irracional, em Lascivo, em Libidinal, em Philip Roth e n’O Animal Moribundo, Pessoa Bruta e nos Bichos de Miguel Torga. Nos documentários da National Geographic em manhãs domingueiras de outrora, nos animais fascinantes, nas formigas, nos elefantes. 

O Animal simbólico habita o inconsciente em nós, abrindo portas a uma rebeldia que desassossega, à matéria compulsiva dos sentidos, à conexão pura dos instintos. O Animal simbólico inquieta o reprimido e obriga-nos à negação do desejo. Coexistimos porque precisamos de reconhecer a nossa ligação ao mundo, e porque insistentemente procuramos uma integração e um equilíbrio entre o instinto e a racionalidade. Domesticamos, na tentativa de dominar os nossos próprios impulsos, mas continuamos a admirar os selvagens, os que não sucumbem à obediência. Aos que obedecem, exigimos amor incondicional. 

O Animal simbólico coloca-nos inevitavelmente perante o Instinto de Vida e o Instinto de Morte. Convida-nos a reinventar novas formas de comunicar e aguça-nos o afeto. 

Aprendi com os animais a inutilidade que as palavras às vezes têm. Antes da Palavra, só há corpo e é preciso aprender a olhar com atenção. O corpo tem uma linguagem própria, que carrega uma misteriosa ligação ao mundo primário que não obedece ao primado superegóico. Pertence ao mundo pré-verbal e à emoção. 

Assim se juntam estes dois mundos, o Racional e o Irracional, o Humano e o Animal, o Primário e a Palavra, para que possamos olhar para os Sonhos. Só assim podemos conhecer o que temos de mais íntimo e assegurar a liberdade daquilo que é indomável, daquilo que se impõe acima de qualquer censura. O primário permanece primário até que o afeto o transforme. Só depois nasce a palavra, o pensamento e o sonho.

E neste momento presente, em que penso e escrevo, dorme indiferente e aninhado o meu gato aqui ao lado.


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